-Nome e sobrenome da Professor : Fabrício Coelho de Sousa

-Disciplina : Filosofia da Linguagem
-Semestre: 5° semestre de Filosofia

-Tema do material: Filosofia da Linguagem no Tratactatus de Wittgenstein

 

Leitura Dirigida – Tractatus Logico Philosophicus

Diante das discussões que ocorreram em aulas passadas e das consequências que retiramos do pensamento de Wittgenstein expresso nas proposições analisadas do Tractatus, continuaremos  nossa análise a partir daquilo que já conquistamos: a relação entre mundo e pensamento, e o redimensionamento do antropos a partir desta relação. Hoje nosso objeto de análise será o entendimento que Wittgenstein detém sobre a filosofia a partir do prisma analítico desenvolvido no Tractatus.

Recuperemos a proposição “3. Pensamento é a figuração lógica dos fatos.” 

Pensar não diz respeito a nenhuma atividade  cognitiva-intelectual de um ser pensante, ou de uma “coisa que pensa” (como queria Descartes). Pensar, no sentido que Wittgenstein está propondo, tem a ver como os fatos são figurados de forma lógica. Nos lembremos que a ocorrência de coisas em relação umas com as outras é um fato, esta relação é que é figurada logicamente, pois a relação mesma é lógica. A lógica é uma espécie de metafísica que organiza as coisas e  deixa figurar-se, ou seja, deixa representar-se. E onde ela será representada? Proposição “4. O pensamento é a proposição significativa.” Na proposição é onde a lógica se exibe, o operador de como as coisas se relacionam. Em última instância, nós não temos relação diretamente com as coisas, mas sim mediadas pela proposição, que reflete o modus operandi (lógica) de como as coisas se relacionam para formar mundo. Há ainda um dado na “proposição 4” : o pensamento é a proposição que contém significado, ou seja, possui sentido. Isto fica claro na proposição “4.01. A proposição é figuração da realidade.” A figuração da realidade, ou seja, a forma lógica é  o que perfaz a proposição, dotando-a de sentido, significado. Em última instância o sentido, o significado vem da lógica de como as coisas se organizam. Sendo assim pensamento não provém de uma consciência ou correlato a esta, mas vem do operador de como as coisas se organizam, se relacionam entre si – o que Wittgenstein chama lógica – para formar mundo. 

Já na proposição “4.001- A totalidade das proposições é a linguagem.” , o pensador do Tractatus exibe seu entendimento sobre linguagem, fazendo assim a exibição primordial e essencial para um modo de  pensar que se pretenda analítico a partir do exame da linguagem. Vejamos.

 Se mundo é o que ocorre – a isto ele denominou fatos – , e se os fatos  são figurados na proposição, ou seja refletem a forma lógica de como as coisas se relacionam para formar mundo, e esta figuração na proposição é o pensar temos o seguinte esquema : 

 

                         mundo                                               proposição pensamento

                         fatos                                                 figuração

      coisas num Estado de coisas                            (forma lógica)

    (Estado de coisas = forma lógica)

 

                                                     TOTALIDADE DAS PROPOSIÇÕES (LINGUAGEM)

 

Só há pensamento porque este é um reflexo de como mundo se organiza, e como esta organização  é espelhada na proposição, sendo a totalidade das proposições a linguagem.

Ainda sobre a lógica ser vista como instância que instaura sentido, significado e que está espelhada na proposição podemos citar a proposição “4.011. À primeira vista, a proposição — em particular tal como está impressa no papel — não parece ser figuração da realidade de que trata. Mas tampouco a escrita musical parece à primeira vista ser figuração ‘da música, e nossa escrita fonética (letras), figuração da linguagem falada. No entanto, essas linguagens simbólicas se manifestam, também no sentido comum, como figurações do que representam”

Wittgenstein exibe analogias de como a proposição é o lócus onde a lógica que organiza as coisas se manifesta.

 

A proposição “4.023” atesta o que dissemos acima e quer insistir cada vez mais na zona de investigação a que Wittgenstein propõe como lócus primordial de análise da linguagem de viés analítico: a Lógica. Analisemos:

 

 “4.023. Por meio da proposição a realidade deve ser fixada enquanto sim ou enquanto não. Por isso deve ser completamente descrita por ela. A proposição é a descrição de um estado de coisas. Assim como a descrição de um objeto se dá segundo suas propriedades externas, a proposição descreve a realidade segundo suas propriedades internas.

A proposição constrói o mundo com a ajuda de andaimes lógicos, e por isso é possível, na proposição, também se ver, caso ela for verdadeira, como tudo que é lógico está. Pode-se de uma proposição falsa  tirar conclusões.”

 

“A proposição é a descrição de um estado de coisas”. A proposição faz referência a lógica, ao como as coisas se organizam : “a proposição descreve a realidade segundo suas propriedades internas.”. Ou seja, a proposição não diz respeito a descrição de objetos ou qualidades dos mesmos. Linguagem não é um comunicar inocente de mensagens subjetivas acerca do mundo. Aliás, mundo se torna compreensível para nós através da proposição que espelha a lógica de como este mundo se estrutura: “A proposição constrói o mundo com a ajuda de andaimes lógicos[…]”.

 

Ainda sobre como a proposição recebe seu fundamento a partir do espelhamento lógico dos fatos temos a proposição “4.03. Uma proposição deve comunicar novo sentido

com velhas expressões.  A proposição nos comunica uma situação, de sorte que deve estar essencialmente vinculada a ela. E a vinculação consiste precisamente em que

ela é sua figuração lógica. A proposição só asserta algo enquanto é figuração.” A parte grifada da proposição 4.03 é a que deve ser analisada. A situação nada mais é do que o Estado de coisas ao qual a proposição deve estar vinculada para poder mostrar algo sobre o mundo, esta vinculação, como diz o próprio Wittgenstein, é a figuração. Podemos citar outras proposições acerca deste arranjo:

 

“4.032. A proposição é urna figuração da situação unicamente enquanto for logicamente articulada[…].” 

“4.1. A proposição representa a subsistência e não subsistência dos estados de coisas.”

 

Exercícios Avaliativos

 

A partir destes arranjos podemos visualizar Wittgenstein exibindo um conceito nada ortodoxo – aliás, como  tudo o que diz respeito ao Tractatus  – do que seja filosofia:

 

“4.112. A finalidade da filosofia é o esclarecimento lógico dos pensamentos. A filosofia não é teoria mas atividade. Uma obra filosófica consiste essencialmente em comentários. A filosofia não resulta em “proposições filosóficasmas em tornar claras as proposições. A filosofia deve tomar os pensamentos que, por assim dizer, são vagos e obscuros e torná-los claros e bem delimitados.”

Também nos deparamos com um dado de difícil compreensão sobre o operador da realidade, a saber, a lógica:

“4.12.  A proposição pode representar a realidade inteira, não pode, porém, representar o que ela deve ter em comum com a realidade para poder representá-la — a forma lógica.

Para podermos representar a forma lógica seria preciso nos colocar, com a proposição, fora da lógica; a saber, fora do mundo.”

“4.121. A proposição não pode representar a forma lógica, esta espelha-se naquela.

Não é possível representar o que se espelha na linguagem. O que se exprime na linguagem não podemos expressar por meio dela. A proposição mostra a forma lógica da realidade.

Ela a exibe.”

 

Além de uma enigmática proposição, aos moldes de Nietzsche:

4.1212 “O que pode ser mostrado não pode ser dito.”

 

1- O que Wittgenstein quer dizer com “A filosofia não é teoria mas atividade” (4.112)? 

2- O que Wittgenstein afirma sobre a lógica nas proposições 4.12 e 4.121 acima?

3- O quê Wittgenstein está afirmando acerca da relação entre mundo, proposição e lógica na  proposição 4.1212?